É fato que o conservadorismo está na moda, tanto por conta de diversos políticos de perfil "conservador" estarem sendo eleitos no Brasil e até fora do país, quanto pelo fato de as pessoas estarem cada vez mais explícitas ao expor sua defesa a supostos valores tradicionais.

Até aí nenhum problema, afinal, defendemos a liberdade de expressão e queremos que todos tenham voz. O problema é quando essa liberdade ultrapassa os limites do bom senso e começa a transparecer desinformação e até ferir outras pessoas.

Recentemente, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella resolveu arbitrariamente proibir a comercialização de um quadrinho dos Vingadores na Bienal do Livro do Rio alegando que o conteúdo era impróprio e ofensivo para crianças por mostrar dois herós adolescentes gays se beijando, o que, em sua justificativa, trata-se de conteúdo sexual.

Tudo começou com uma visitante que viu o quadrinho Vingadores - A Cruzada das Crianças (cuja edição atual já está nas bancas brasileiras há pelo menos 3 anos) e presenciou o beijo dos personagens Wiccano e Hulkling, que são um casal na história. Ela reclamou no Twitter, a reclamação viralizou em grupos de Whatsapp e chegou até um vereador, que fez um pronunciamento contra a obra na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O prefeito, então, se aproveitou e fez até um vídeo falando do assunto.

Isso apenas mostrou o preconceito e a falta de informação dos envolvidos, visto que o quadrinho não é uma história livre para todos os públicos, é uma história para adolescentes e, ainda por cima, a fatídica cena de beijo não tem absolutamente nada de sexual. Ou seja, tanto a visitante, quanto o deputado e também o prefeito nem sabiam do que estavam falando.



A organização da Bienal do Livro do Rio de Janeiro não só repudiou o veto do prefeito, como também reafirmou sua preocupação com a diversidade e não interrompeu a venda do quadrinho, que ganhou destaque, vendeu muito bem e acabou esgotando logo no primeiro horário do dia seguinte da feira. Um ótimo posicionamento da organização e dos leitores, que não deixaram o preconceito vencer.

Essa história vai de encontro a outra polêmica recente, que envolveu o recolhimento de livros em escolas que continham o termo ideologia de gênero, outra atrocidade cometida por autoridades desinformadas. A tendência de tentar esconder a existência dos LGBTQ das crianças e jovens é um problema sério. As ações midiáticas só servem para acentuar a polaridade entre a população também desinformada, o que aumenta o ódio contra as minorias e, por consequencia, a violência contra outros seres humanos.

Todos, desde cedo, precisam entender como o mundo é, como as pessoas são. Não é a censura, a arbitrariedade ou o veto de obras de entretenimento que irão resolver os problemas do mundo e criar uma sociedade melhor. É a informação.